A Guerra na Ucrânia — “Porquê exactamente é que estamos em guerra com a Rússia” ?  Por Francisco Tavares

 

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“Porquê exactamente é que estamos em guerra com a Rússia” ?

 Por Francisco Tavares

em 23 de Julho de 2023

 

Extraordinário o texto de Victor Hill que publicámos ontem, enquanto expressão bastante precisa da narrativa do dito Ocidente sobre a guerra na Ucrânia e a Rússia. Vale a pena lê-lo.

Não resistimos, no entanto, a fazer algumas observações críticas sobre este seu texto, nomeadamente sobre os clichés, por vezes habilmente subentendidos, que escreve, e com os quais os media ocidentais dominantes “lavam” (ou tentam “lavar”) os cérebros do público (ocidental) em geral.

Afinal, “porquê exactamente é que estamos em guerra com a Rússia”, uma pergunta bem certeira posta por Tucker Carlson, comentarista político conservador dos EUA e ex-jornalista da Fox News em 28 de Junho passado (dias após o motim de Prigozhin na Rússia), pergunta que, muito provavelmente, deixará o comum dos mortais a balbuciar ou a papaguear aquilo que vê diariamente as nossas televisões e meios de comunicação.

Para começar, não deixa de surpreender que um jornalista como Victor Hill faça eco do “fascínio ansioso” com que os EUA/NATO/UE [e parece que também ele Victor Hill] assistiram à pantomina de Prigohzin (em 23/24 de Junho). Ahhh, finalmente “Os russos estavam a matar russos”! E afinal, o lobozinho mau Lukashenko é que travou a marcha do pantomineiro em direção a Moscovo. Mas será que Victor Hill acredita no que escreve? (aliás, logo mais adiante, põe em dúvida que Prigohzin alguma vez tenha chegado a sair de Rostov… ) (sobre o flop do dito levantamento Prigozhin, ver Prigozhin e o declínio da Europa, de Alastair Crooke e O nevoeiro de Prigozhin: A sua bizarra revolta militar e certamente condenada ao fracasso, de Yves Smith).

Diz Hill: “depois do drama do passado sábado [o “motim” de Prigozhin], a dinâmica da política russa mudou de forma fundamental”. Vejamos que mudança foi essa.

Por fim, “Putin não é invencível”. Diz Hill: o motim de Prigozhin seguiu-se a “uma incursão no Oblast de Belgorod por forças russas anti-Putin”, ao jeito de como se se tratasse de um levantamento em massa contra Putin.

Hill “esquece-se” de dizer que Belgorod está mesmo junto à fronteira da Ucrânia e que as ditas “forças russas anti-Putin” são a Legião da Liberdade da Rússia, que é uma Legião das forças armadas da Ucrânia, criada em Março de 2022, composta sobretudo por desertores das forças armadas russas e alguns bielorussos, com a ajuda dos serviços secretos da Ucrânia. O porta voz desta Liga, chamado César, define-se como nacionalista russo e pertenceu ao movimento Imperial, uma organização paramilitar ultranacionalista e supremacista branca. O Harper’s Magazine, sobre as unidades estrangeiras sediadas na Ucrânia (como é o caso da Liga) afirma que é mais uma questão de relações públicas que uma realidade (Laurent Schang, em artigo que publicaremos – Dia 436 da guerra russo-ucraniana: porque tarda a contra-ofensiva de Kiev? – confirma-o com números).

Mais adiante diz Hill: Prigohzin afirma que a sua ação foi “um protesto. O casus belli foi, provavelmente, a alegação – não autenticada, mas credível – de que a artilharia do exército russo bombardeou deliberadamente unidades Wagner na região de Bakhmut, na semana passada”. Não apresenta quaisquer dados que confirmem (“não autenticada, mas credível” !) o que diz, sabendo-se que foi o próprio Prigohzin que divulgou um vídeo acusando o exército russo de se retirar de Zaporijia e de Kherson (!!) e também de bombardear um dos seus campos de treino, matando dezenas dos seus mercenários.

Mas para Hill já não se trata de mudar o regime: “Uma transição ordenada do poder [para Dmitri Medvedev, Presidente russo de 2008 a 2012] é algo que os EUA e os seus aliados (bem como a China) prefeririam muito mais do que uma descida ao facciosismo e, possivelmente, à anarquia.” E continua: “Putin poderá estar a calcular que, se Donald Trump regressar ao poder, o apoio inequívoco dos Estados Unidos à Ucrânia poderá ser retirado. Isso seria vantajoso para ele”. Hill silencia os relatos cada vez mais insistentes dos meios de comunicação dos EUA sobre reduzir o apoio à guerra na Ucrânia, nomeadamente em face do jogo de opções para as presidenciais de 2024. E diz mais: “existe o receio de que, se Putin cair, alguém ainda mais perigoso chegue ao poder num país que tem mais ogivas nucleares do que os EUA. (…). É por isso que Washington utilizou os canais diplomáticos para assegurar a Moscovo, esta semana, que não pretende uma mudança de regime”. Afinal, Biden não disse o que disse (que quer derrubar o governo de Putin, ver aqui). Ai, santos neoconservadores dos EUA e UE, ai santa NATO! Que bonzinhos somos. O lógico seria então encaminhar-se para a mesa de negociações, não? Afinal, a “mudança fundamental da dinâmica política” é de Moscovo ou é de Washington e seus aliados europeus?

Apesar de os resultados da contra-ofensiva ucraniana serem marginais (leia-se praticamente nulos), Hill parece acreditar em milagres: “a contraofensiva ucraniana pode trazer resultados tangíveis durante os meses de verão“ [tangíveis, segundo o Priberam, é que podem ser tocados ou apalpados]. A serem do mesmo tipo que têm sido até ao momento, serão muito provavelmente os corpos dos ucranianos utilizados como “carne para canhão” assim como o equipamento milagroso doado pelos EUA/NATO destruído.

O artigo de 9 de Maio passado, de Laurent Schang – Dia 436 da guerra rusoo-ucraniana: porque tarda a contra-ofensiva de Kiev? – mantém-se perfeitamente atual: estamos longe das milagrosas armas para Kiev anunciadas nos meios de comunicação ocidentais (sobre as armas milagrosas ver também General Milley: os F-16 não são armas mágicas, por Davide Malacaria).

Mais surpreendente, Hill crê nas mentiras divulgadas, uma e outra vez, pelo Ocidente, e apesar das evidências em contrário (ver aqui, aqui, aqui e aqui) escreve: “Foi uma surpresa quando as forças russas (como parece mais provável) rebentaram com a barragem de Nova Kakhovka, inundando assim vastas áreas do Oblast de Kherson. Partiu-se do princípio de que os russos se absteriam de praticar o ecocídio. Da mesma forma, in extremis, as forças russas poderiam tentar transformar a central nuclear de Zaporizhia numa arma, com consequências ainda mais aterradoras”.

Como disse Dante Barontini em 3 de Julho, “Há dias que se multiplicam os alarmes sobre um iminente “ataque russo à central nuclear de Zaporizhzhia”, a maior da Europa (…) Existe a possibilidade de uma Ucrânia cada vez mais desesperada tentar encenar um ataque de “falsa bandeira” à central nuclear de Zaporizhzhia (ZNPP), na região de Kherson, culpando a Rússia“. É o próprio coordenador de comunicações estratégicas do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca , John Kirby que diz que os EUA não vêem provas de que exista “uma ameaça de destruição da central nuclear de Zaporozhye por parte das forças da Federação Russa, como Kiev afirma“. Também a Agência Internacional de Energia Atómica em relatório de 30 de Junho desmente que existam bombas russas colocadas na Central (ver aqui). Continua Barontini: “O ataque de “falsa bandeira” à central de Zaporizhzhia seria, em suma, a oportunidade certa – segundo estes loucos – para sacudir uma situação de impasse [os resultados marginais da contra-ofensiva ucraniana] e convencer os “aliados relutantes” a passar a última linha vermelha: a intervenção direta”.

Afinal, que pretende Victor Hill?

E sobre o rebentamento do gasoduto Nord Stream (largamente documentado pelos textos publicados aqui na Viagem dos Argonautas), silêncio. Sobre os crimes de guerra ucranianos, silêncio. Sobre o exército secreto de terror montado pelos britânicos para atacar a Crimeia, silêncio. Sobre o rebentamento parcial da ponte que liga a Rússia à Crimeia (precisamente agora assumido oficialmente pelos serviços de informação ucranianos), silêncio.

No relato de Hill não falta a referência ao possível colapso económico da Rússia. Mas os dados existentes não lhe permitem confirmar esse dito colapso: “E, no entanto, a economia russa ainda está a passar: não há sinal de colapso económico iminente”. (ver A economia russa está a ter um desempenho que supera o da Alemanha, de Wolfgang Munchäu).

E segue Hill: a “possibilidade real de Putin e o seu regime aumentarem ainda mais o conflito, possivelmente até com a utilização de armas nucleares tácticas (ou seja, no campo de batalha). (…) Tal ação levantaria a terrível perspetiva de uma troca nuclear total entre a Rússia e o Ocidente.” També a comparação que faz com a Coreia do Norte, para instilar a ideia do suposto isolamento da Rússia, Rússia que “continuará a ser a principal ameaça à segurança da Europa”. Entretanto, a NATO vai-se alargando até às fronteiras da Rússia (vd. adesão da Finlândia). Mas não, a Rússia é que está a ameaçar a “Europa”! Até o famigerado Kissinger diz “a proposta de aceitar a Ucrânia na NATO foi um erro grave e conduziu a esta guerra”.

A tragédia da diplomacia americana hoje em dia é que é diplomacia pela guerra, não pela paz. As principais prioridades do Departamento de Estado não são fazer a paz, nem mesmo ganhar guerras, algo que os Estados Unidos não fazem desde 1945, à excepção da reconquista de pequenos postos neocoloniais em Granada, Panamá e Kuwait. As suas prioridades reais são intimidar outros países a aderirem a coligações de guerra lideradas pelos EUA e comprarem armas americanas, silenciar apelos à paz em fóruns internacionais, impor sanções coercivas ilegais e mortíferas, e manipular outros países para que sacrifiquem o seu povo nas guerras por procuração dos EUA”. (Medea Benjamin e Nicolas J.S. Davies, ver aqui).

Dizia Andrew Bacevich há dias: “no momento actual, a Rússia é tudo menos o principal adversário global da América; nem é óbvio, dados os problemas prementes que os Estados Unidos enfrentam internamente e no plano externo mais próximo, por que razão o isco contra Ivan deve ser uma prioridade estratégica. Vencer o exército russo em campos de batalha a vários milhares de quilómetros de distância não vai, por exemplo, fornecer um antídoto contra o Trumpismo ou resolver o problema das fronteiras porosas deste país. Nem aliviará a crise climática”. “Os delirantes jornalistas americanos que apelam aos ucranianos para abrirem buracos nas linhas inimigas poderiam servir melhor os seus leitores se reflectissem sobre o padrão mais amplo do intervencionismo americano que começou há várias décadas e culminou na desastrosa queda de Cabul em 2021”.

De algum modo, Hill tem subjacente a ideia de que as nossas vidas dependem da luta pela “liberdade” na Ucrânia. Uma ideia de “iluminados idiotas” como nos diz Tom Luongo.

Sobre a esperança de haver paz, diz Hill: “Enquanto Zelensky e o seu séquito se mantiverem no poder, isso não acontecerá”. Extraordinário, um jornalista como Victor Hill fala como se estivéssemos em presença de uma guerra em que os agentes são somente a Ucrânia e a Rússia. Nem uma palavra sobre o envolvimento directo dos EUA/NATO/União Europeia, o golpe de Maidan em 2014, os acordos de fachada de Minsk (para dar tempo à preparação militar da Ucrânia, como reconheceu Merkel no início deste ano). Também nem uma palavra sobre a sabotagem da paz logo em Março de 2022, por parte dos EUA (via Boris Johnson, ver aqui). Também nem uma palavra sobre a presença dos EUA via CIA (ver editorial da Strategic Culture Foundation aqui publicado há dias atrás). Afinal quem mantém Zelensky e o seu séquito no poder?

Hill: “existe uma possibilidade real de Putin e o seu regime aumentarem ainda mais o conflito, possivelmente até com a utilização de armas nucleares tácticas (ou seja, no campo de batalha). Putin anunciou recentemente o envio de armas nucleares para a Bielorrússia”. Sobre a parafernália da NATO que rodeia a Rússia, silêncio. E mais silêncio sobre a aprovação pelos EUA do envio de bombas de fragmentação para a Ucrânia.

Sobre a disputa (dentro e fora da UE) entre a Polónia e a Alemanha e as manobras dos EUA nesse teatro, nem uma palavra (ver aqui, aqui e o artigo M.K. Bhadrakumar “A Alemanha remilitarizada está a jogar a longo prazo na Ucrânia” que será publicado proximamente).

Sobre o estado económico calamitoso da Ucrânia antes da guerra e sobre a “venda” da Ucrânia ao grande capital (v.g. Blackrock, Monsanto, Chevron), sob a capa da recuperação pós-guerra, também nada diz (ver aqui, aqui e aqui).

 

Afinal, “Porquê exactamente é que estamos em guerra com a Rússia?”

Victor Hill insiste na desacreditada ideia de que “Os russos começaram com o objetivo de guerra de trazer toda a Ucrânia de volta para o abraço da Mãe Rússia”, Risível, se não fosse trágico, o da “violência russa contra um vizinho pacífico”. A Rússia, segundo Hill, “continuará a ser a principal ameaça à segurança da Europa até à segunda metade do século XXI” e “O problema da Rússia – como é que um império eurasiano sem fronteiras naturais e uma tendência à autocracia pode coexistir com os seus vizinhos liberais do Ocidente – nunca desaparecerá”.

Frases espantosas: “O problema da Rússia… nunca desaparecerá”. “Um império eurasiano… e uma tendência à autocracia”.

Novamente silêncio: sobre o ignorar de todos os avisos da Rússia contra a expansão da NATO (até anteriores a Putin, pelo ex-presidente Yeltsin em 1997, por Putin em 2008 – ver artigo de Ray McGovern e artigo de Jeffrey D. Sachs). Expansão esta que desde logo desrespeita a Carta de Paris, assinada por todos os países ocidentais, a URSS e a Jugoslávia em 1990, que declara: “A segurança é indivisível e a segurança de cada Estado participante está inseparavelmente ligada à de todos os outros” (ver aqui). Já para não falar dos compromissos expressamente assumidos, e amplamente documentados, ainda que não reduzidos a escrito, aquando da queda do muro de Berlim em 1989, de que a NATO não se expandiria para leste… nem um milímetro.

Quanto à tendência à autocracia, uma forma, mascarada, de insistir na ideia de que esta guerra é uma luta entre o bem e o mal, entre democracia e autoritarismo:

Leon Panetta, o antigo director da CIA e secretário da defesa sob Barack Obama dizia em Março de 2022: “Não se enganem sobre isso: A diplomacia não vai a lado nenhum a menos que tenhamos influência, a menos que os ucranianos tenham influência, e a forma como se obtém influência é, francamente, entrando e matando russos. É isso que os ucranianos têm de fazer. Temos de continuar o esforço de guerra. Este é um jogo de poder

Dizia Jeremy Scahill do The Intercept em Abril de 2022: “A cobertura mediática ocidental é frequentemente elaborada para retratar apenas um resultado como aceitável: uma vitória decisiva da Ucrânia, na qual o governo de Volodymyr Zelenskyy emerge dos horrores da invasão russa com total controlo de todo o seu território, incluindo a Crimeia e a região de Donbas. A Ucrânia, como Estado livre e independente, deveria ser livre de aderir à NATO, e a Rússia não tem legitimidade para questionar as implicações de uma tal medida (…) nesta mentalidade está embutido um princípio moralmente duvidoso: os ucranianos devem suportar o custo humano não só da defesa da sua nação, mas também das agendas de maior escala dos EUA e de outros governos ocidentais (…)”. “Anne Applebaum, uma proeminente falcão, argumentou que agora é o momento de os EUA e os seus aliados abraçarem uma nova Guerra Fria (…)” e escreveu ela “Não existe uma ordem mundial liberal natural, e não há regras sem alguém que as faça cumprir”.

Dizia o Professor Luís António Paulino, logo em Abril de 2022: “Longe de ser uma batalha entre o bem e o mal, entre democracia e autoritarismo, a guerra da Ucrânia é apenas mais um lance do complexo jogo da geopolítica global no qual os Estados Unidos movem as suas peças para impedir que a sua hegemonia seja colocada em xeque. Nesse sentido, a guerra da Ucrânia é apenas o resultado previsível de uma série de medidas tomadas pelos próprios Estados Unidos nas últimas três décadas após o fim da União Soviética no seu esforço de estabelecer e manter um mundo unipolar sem que nenhum eventual desafiante lhes faça sombra.

Por meio de seu poderoso poder de persuasão (soft power), apoiado não apenas nos media e na academia americana, mas na vasta rede internacional de intelectuais e jornalistas que orbitam em torno dessas instituições, os Estados Unidos sempre tentaram fazer crer que as suas agressões se dão em nome da liberdade, da democracia e dos direitos humanos, que os seus objetivos são sempre os mais nobres, o que justifica o recurso a qualquer meio (quem não se lembra das duas bombas atómicas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki ou bombardeamentos de napalm no Vietname?).

Mas a realidade é outra, pois sempre que se tratou de defender os seus interesses, os norte-americanos não titubearam em apoiar governos e regimes políticos que passavam a léguas de distância de uma democracia liberal eleitoral, que na sua retórica é a única forma de governo aceitável. Como afirmou o já citado Michael Beckley, a ordem liberal liderada pelos Estados Unidos, como todas as ordens, é apenas um modo confortável de hipocrisia organizada, criada para manter os rivais de fora e não para colocar todos juntos”. (…) Atribuir tudo o que tem acontecido aos impulsos autoritários e imperialistas de Putin ou até a certos desvios de personalidade do dirigente russo é uma forma cómoda de encontrar um culpado para um conflito que, no fundo, se não foi iniciado, poderia ter sido evitado se os Estados Unidos e os seus aliados na Otan realmente quisessem (…) Nunca é demais lembrar que os últimos quatro presidentes americanos invadiram ou atacaram militarmente uma dezena de países pelo mundo, além de promoverem as chamadas “revoluções coloridas” com o propósito de, em nome da democracia, derrubar governos que não lhes eram favoráveis, como o foi o caso da própria Ucrânia, em 2014. Segundo estatísticas incompletas, entre o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, até 2001, entre os 248 conflitos armados em 153 regiões do mundo, 201 foram iniciados pelos Estados Unidos, o que representa 81% do total: Coreia (1951), Porto Rico (1950), Vietname (1961), Cuba (1961), Laos (1964), Camboja (1969), Granada (1983), Líbia (1986), Honduras (1988), Iraque (1991), Iraque (1993), Haiti (1994), Iraque (1998), Jugoslávia (1999), Afeganistão (2001), Iraque (2003), Líbia (2011) e Síria (2018). Nas guerras promovidas pelos Estados Unidos depois do 11/9, morreram 929.000 pessoas, dentre as quais 387.000 civis; 38 milhões de pessoas tornaram-se refugiados.

Diante destes números, a indignação de Biden e outros líderes do Ocidente diante das atrocidades da Guerra da Ucrânia soam totalmente falsas”.

 

O próprio Financial Times pela mão do jornalista Janan Ganesh reconhecia em Março de 2022 que “A guerra na Ucrânia não é uma questão de democracia contra autocracia” (ver aqui).

Ainda sobre a caracterização do regime russo, será interessante lembrar afirmações do professor Mark Lawrence Schrad num seu artigo de Abril de 2022 – Acusações de Crimes de Guerra poderão ajudar Putin, não prejudicá-lo – onde diz:

A verdade é – tanto agora como no passado – que o regime do Putin tem sido notavelmente estável. Além disso, muitos dos mesmos prognosticadores que prevêem o desaparecimento de Putin hoje já o fizeram antes e não se saíram bem. (…) Eu sugeriria outra alternativa: Reflecte um mal-entendido fundamental da dinâmica política russa, influenciada pelo que o Presidente Joe Biden chamou num discurso recente a nossa crença de que existe “uma grande batalha pela liberdade: uma batalha entre democracia e autocracia, entre liberdade e repressão, entre uma ordem baseada em regras e uma governada pela força bruta” (…)    

(…) Mas é importante que compreendamos que a Rússia de Putin não é um regime totalmente autocrático: Não é uma monarquia personalista como o império Romanov, nem é uma ditadura totalitária como a União Soviética de José Estaline, apesar das frequentes analogias ocidentais. De facto, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, estava correcto ao desmascarar a improvisação de Biden que Putin “não pode permanecer no poder”, ao dizer “Isso não cabe a Biden decidir. O presidente da Rússia é eleito pelos russos”.

(…) O papel das eleições populares como fonte de legitimidade governativa é apenas uma das maneiras pelas quais é difícil classificar o sistema político russo. Apesar de toda a conversa sobre a personalidade ditatorial de Putin e a ampla latitude para reprimir as liberdades civis, as instituições do Putinismo foram construídas pelo seu predecessor democrático, Boris Ieltsin, consagrado na sua constituição de 1993. Com falhas e imperfeições na prática durante os tumultuosos anos 90, estas fundações eram, em princípio, democráticas: A sociedade civil de base floresceu a par de um ambiente animado nos meios de comunicação social, uma vez que os legisladores e líderes foram escolhidos de entre uma variedade de concorrentes. Mesmo quando essas liberdades foram subsequentemente corroídas e os meios de comunicação independentes restringidos, as instituições continuam a especificar que os líderes da Rússia servem à vontade do povo. De facto, a intensificação da propaganda do Kremlin destina-se, acima de tudo, a tranquilizar os russos de que a liderança de Putin é digna do seu apoio contínuo. Tais gestos para o povo seriam desnecessários numa ditadura clássica e comum.” [1]

 

E voltamos à pergunta: “Porquê exactamente é que estamos em guerra com a Rússia”.

Em alguns meios de comunicação, nomeadamente em editorial da Strategic Culture Foundation, chama-se a atenção para um relatório de Abril de 2019 da Rand Corporation – Overextending and Unbalancing Russia. (Sobrecarregando e desequilibrando a Rússia) – ver aqui (em Julho de 2022, publicámos também na Viagem dos Argonautas excertos deste relatório). Desde logo quem é a Rand Corporation: afirmando-se uma organização de investigação com fins não lucrativos, as suas receitas provêm em quase 60% do Exército e da Força Aérea dos EUA, do Ministério da Defesa, do Ministério do Interior e outras agências estado-unidenses de segurança (FBI, CIA, etc). Se contarmos com todas as entidades governamentais federais e estaduais, a percentagem sobre para cerca de 80% (ver aqui). Ou seja, é uma entidade fundamentalmente dependente do governo dos EUA. Tendo sido criada em 1948, um dos seus cofundadores foi o comandante da força aérea, General Curtis LeMay, o arquitecto do lançamento de bombas incendiárias sobre Tóquio em 1945 e do holocausto atómico em Hiroshima e Nagasaki. LeMay foi um falcão da Guerra Fria que defendeu ataques nucleares preventivos contra a União Soviética junto do Presidente John F Kennedy no início dos anos 60.

O relatório diz no seu início: “Este relatório examina exaustivamente as opções não violentas e que implicam custos, que os Estados Unidos e os seus aliados poderiam seguir nas áreas económica, política e militar, para pressionar – sobrecarregar e desequilibrar – a economia e as forças armadas da Rússia e a posição política do regime no país e no estrangeiro. (…).

Continua o relatório: “Estas vulnerabilidades [da Rússia] estão associadas a ansiedades profundamente enraizadas (se bem que exageradas) sobre a possibilidade de uma mudança de regime inspirada pelo Ocidente, a perda do estatuto de grande potência e mesmo um ataque militar.”

Entre algumas das “não violentas” opções apresentadas podemos ver: Imposição de sanções comerciais e financeiras mais severas, fornecer ajuda militar letal à Ucrânia, reposicionamento de bombardeiros a uma distância de ataque fácil a alvos estratégicos russos, reposicionar os caças de modo a estarem mais próximos dos seus alvos do que os bombardeiros, enviar mais armas nucleares táticas para locais na Europa e na Ásia, aumento das forças dos EUA na Europa, aumento das capacidades terrestres dos membros europeus da NATO e destacamento de um grande número de forças da NATO para a fronteira russa.

Tudo o que temos visto a desenrolar-se no terreno sob o comando EUA/NATO/UE, além das medidas acima referidas, (v,g, expansão da NATO, golpe de Maidan, armamento da Ucrânia, rebentamento do gasoduto Nord Stream, sanções sobre a Rússia, diabolização de Putin, subalternização total da UE, aumento da importação de petróleo dos EUA, aumento da importação de gaz não proveniente da Rússia, exercícios militares da NATO no mar Negro, intensa e demolidora campanha dos media dominantes para minar a imagem da Rússia e do seu regime) é consistente com estas medidas propostas em 2019.

Naturalmente, o golpe de Estado apoiado e organizado pelos EUA em Kiev, em Fevereiro de 2014, foi um evento chave para tornar possível prosseguir todo este planeamento. O regime que chegou ao poder era raivosamente anti-russo e infestado pela ideologia neonazi. Foi uma ferramenta zelosa para a política americana e da NATO de antagonizarem e ameaçarem a Rússia.

No entanto, podemos encontrar em momentos anteriores, o porquê deste enfrentamento com a Rússia. Em 1997, o geopolítico democrata Zbigniew Brzezinski (conselheiro de Jimmy Carter na década de 1970) publicou o livro The Grand Chessboard: American Pimacy (O Grande Tabuleiro de Xadrez: A primazia americana), que se tornou uma espécie de bíblia da política externa estado-unidense. Brzezinski é tributário do pensamento de Halford J Mackinder [1861-1947]. O artigo de Mackinder ”… de 1904, “The Geographical Pivot of History”, é a base de quase todo o pensamento estratégico nas actuais salas de política, grupos de reflexão e academias militares do Ocidente”. Dizia Mackinder: “Quem governa a Europa de Leste comanda a Heartland; Quem governa a Heartland comanda a Ilha do Mundo; Quem governa a Ilha do Mundo comanda o mundo”. A ilha do mundo é, basicamente, a Eurásia. Ora, diz Brzezinski no seu livro que a Ucrânia é o pivot do controlo hegemónico sobre a Eurásia e uma cabeça de ponte para desestabilizar a Rússia. “Para os Mackinderistas no topo das estruturas de poder em Londres, Washington D.C. e Bruxelas, perder a Ucrânia significa perder o mundo inteiro, porque eles têm esta muito desactualizada visão da geografia mundial” (vd. Tom Luongo). Como diz José Luís Fiori “Brzezinski foi o grande mestre de Madeleine Albright (Secretária de Estado de Obama), que por sua vez foi a mentora intelectual de Anthony Blinken, Jack Sullivan, Victoria Nuland, entre outros, que trabalharam com Obama e seguem trabalhando com Biden, e estiveram todos diretamente envolvidos com o golpe de estado da Praça Maidan, na Ucrânia, em 2014” (ver aqui).

Dizia M.K. Bhadrakumar em  “A angústia existencial de Biden na Ucrânia”, “O gato está fora do saco, finalmente – os EUA estão a lutar na Ucrânia para preservar a sua hegemonia global.

Ou como o coloca Alastair Crooke, “Os EUA devem persistir na Ucrânia. Porquê? Para salvar a agora ameaçada «Ordem Baseada em Regras»”.

Afinal, quem ameaça quem?

Como avisadamente escrevia Egon von Greyerz em Maio de 2022: “a grande maioria do mundo não tem qualquer desejo de guerra com a Rússia, mas a sua voz é raramente ouvida nos meios de comunicação social dominados pelo Ocidente.

À medida que os líderes ocidentais prosseguem o seu conflito bélico, devemos recordar as palavras de Winston Churchill:

“Nunca, nunca, nunca, nunca acredite que qualquer guerra será suave e fácil, ou que alguém que embarca na estranha viagem possa medir as marés e furacões que encontrará. O estadista que cede à febre da guerra deve compreender que, uma vez dado o sinal, já não é o mestre da política mas o escravo de acontecimentos imprevisíveis e incontroláveis”.

Como Jeffrey D. Sachs recordaEm junho de 1963, Kennedy pronunciou a verdade essencial que pode nos manter vivos hoje: “Acima de tudo, enquanto defendemos nossos próprios interesses vitais, nós, as potências nucleares, devemos evitar aqueles confrontos que levam um adversário a escolher entre uma retirada humilhante ou uma guerra nuclear. Adotar esse tipo de caminho na era nuclear seria apenas evidência da falência de nossa política – ou de um desejo coletivo de morte para o mundo”.

Dizia Alastair Crooke em Dezembro de 2022: “Recorde-se que a guerra, no início, nunca foi vista por Washington como sendo provavelmente “decisiva”. O aspecto militar foi visto como um complemento – um multiplicador de pressão – da crise política em Moscovo, que se esperava que as sanções desencadeassem. O conceito inicial era que a guerra financeira representava a linha da frente – e o conflito militar, a frente secundária de ataque.

Foi apenas quando o inesperado impacto de sanções não conseguiu provocar “choque e espanto” em Moscovo que a prioridade passou do campo financeiro para o campo militar. A razão pela qual os “militares” não eram vistos em primeiro lugar como “linha da frente” era porque a Rússia tinha claramente o potencial para uma escalada de domínio (um factor que é agora tão evidente).

Portanto, aqui estamos nós: O Ocidente foi humilhado na guerra financeira, e a menos que algo mude (ou seja, uma escalada dramática por parte dos EUA) – perderá também militarmente – com a distinta possibilidade de a Ucrânia, a dada altura, implodir simplesmente enquanto Estado.

A situação real no campo de batalha de hoje está quase completamente em desacordo com a narrativa. No entanto, a UE investiu tão fortemente na sua narrativa sobre a Ucrânia que se limita a elevar a parada, em vez de recuar, para reavaliar a verdadeira situação.

E assim fazendo – elevando a parada da narrativa, (ficando ao lado da Ucrânia “pelo tempo que for preciso”) – o conteúdo estratégico para o pivô “Ucrânia” gira 180 graus: A ‘Ucrânia’ não será ‘o pântano afegão da Rússia’. Pelo contrário, está a transformar-se no “pântano” financeiro e militar de longo prazo da Europa.

O “tempo que for preciso” dá ao conflito um horizonte indeterminado – mas deixa a Rússia no controlo do calendário”.

 

Retomando uma das frases finais de Victor Hill: ““O problema da Rússia… nunca desaparecerá”. Que maçada, até parece que se a Rússia desaparecesse… Mas, como diz Armando Steinko, a Rússia “foi invadida várias vezes pelo Ocidente [2] e da última vez perdeu mais de 25 milhões dos seus habitantes”. E permanece.

Haverá também que ter presente que a Rússia, com 17 milhões de quilómetros quadrados é o maior país do mundo (os EUA têm 9,5 milhões de quilómetros quadrados). Situado na Europa e na Ásia, a parte europeia, com 3,96 milhões de quilómetros quadrados, torna-a o maior país da Europa (França e Espanha são da ordem dos 500 mil quilómetros quadrados). A sua população – 147 milhões de habitantes – concentra-se maioritariamente na parte ocidental, ou seja, europeia.

Hill conclui com “Há um estado de atrito que reside em algum lugar entre a Guerra Fria e a ‘Guerra Quente’. É onde estamos agora – e todas as apostas são possíveis.

Hill parece atuar em concordância com o que diz Alain de Benoist: “Não podendo fazer a Rússia evaporar-se, trata-se de a excluir do concerto das nações, de a estigmatizar para sempre, de a separar definitivamente de qualquer tipo de relacionamento com a Alemanha, a França, com toda a Europa ocidental, graças a um cordão sanitário que a isolará do resto do mundo. Nesta perspectiva, claro que é do interesse dos Americanos fazer com que esta guerra dure o mais tempo possível. Em Washington [e parece que não só em Washington…] , estão todos prontos a bater-se até ao último ucraniano”.

Como diz Alastair Crooke, os “… [líderes da UE] sabem exactamente que o contrário é verdade: que “de modo algum” a Europa pode derrotar um grande exército russo na massa terrestre da Eurásia.

Continuando a citar Alastair Crooke, agora no seu artigo, Objectivo Estratégico dos EUA: Quebrar e Desmembrar a Rússia; Ou Manter a Hegemonia do Dólar Americano? Ou uma confusa mistura de “Ambos”?:

“Será o mundo anglófono de hoje mais claro sobre os seus objectivos estratégicos com a sua guerra contra a Rússia do que então [II Guerra Mundial]? A sua estratégia é realmente a de destruir e desmembrar a Rússia? Se sim, para que fim preciso (como “ponto de partida” para a guerra contra a China?). E como se vai conseguir a destruição da Rússia – uma grande potência terrestre – a ser realizada por Estados cujos pontos fortes são principalmente o poder naval e aéreo? E o que se seguiria? Uma Torre de Babel de pequenos Estados asiáticos em confronto entre si?  (……) No entanto, no fundo, o objectivo estratégico da actual guerra liderada pelos EUA contra a Rússia é manter a hegemonia do dólar americano – marcando assim uma nota ressonante com a luta da Grã-Bretanha para manter a sua primazia lucrativa sobre grande parte dos recursos mundiais, tanto como para fazer explodir a Rússia como concorrente político. A questão é que estes dois objectivos não se sobrepõem – mas podem puxar em direcções diferentes. (…..) Mas será que a destruição da Rússia foi sempre o principal objectivo estratégico dos EUA? Não será o objectivo – antes – assegurar a sobrevivência das estruturas financeiras e militares associadas, tanto norte-americanas como internacionais, que permitem enormes lucros e a transferência de poupanças globais para a segurança ocidental ‘ciborgue’? Ou, dito de forma simples, a preservação do domínio da hegemonia financeira dos EUA. Como Oleg Nesterenko escreve “esta sobrevivência é simplesmente impossível sem o domínio militar-económico, ou mais precisamente, militar-financeiro do mundo”. O conceito de sobrevivência à custa do domínio mundial foi claramente articulado no final da Guerra Fria por Paul Wolfowitz, o Subsecretário da Defesa dos EUA, na sua chamada Doutrina Wolfowitz, que via os Estados Unidos como a única superpotência remanescente no mundo e cujo principal objectivo era manter esse estatuto: “impedir o reaparecimento de um novo rival, quer na ex-União Soviética, quer em qualquer outro lugar, que constituiria uma ameaça que na anterior ordem era representada pela União Soviética“. (….) Os acontecimentos têm-se desenrolado longe do que era esperado pela Casa Branca. A economia russa não entrou em colapso – como previsto de forma presunçosa. O apoio do Presidente Putin é elevado, 81%; e a Rússia colectiva consolidou-se em torno dos objectivos estratégicos mais vastos da Rússia. Além disso, a Rússia não está isolada globalmente”.

A conclusão de Hill – “Há um estado de atrito que reside em algum lugar entre a Guerra Fria e a ‘Guerra Quente’. É onde estamos agora – e todas as apostas são possíveis”, aponta pois para uma situação de impasse onde tudo parece ser possível. Não parece passar-lhe pela cabeça que a Rússia tenha, neste momento, o controlo do calendário. Não obstante, também não faz referência aos riscos do rearmamento da Polónia (com o apoio dos EUA) e às propagandeadas intenções de colocar uma força “de paz” polaca na Ucrânia, que poderá representar uma ocupação de facto de território ucraniano e uma entrada direta na guerra em curso.

Finalmente, Hill não fala da China, quando muitos analistas assinalam que a atual ação dos Estados Unidos na Ucrânia visa mais longe que a Rússia: visa a ameaça que representa para o poder dos EUA o crescimento da China e os passos que têm sido dados, conjuntamente com os BRICs, para a criação de um mundo multipolar (vd. as iniciativas tomadas pelos EUA em relação a Taiwan e o envolvimento da NATO/UE/Austrália nessas iniciativas).

 


Nota

[1] Também a propósito da caracterização do regime russo, é muito curioso notar aquilo que o historiador Marc Ferro diz de um regime presidencialista (com semelhanças ao da Rússia) como o que existe em França, falando de “sacralização do poder”: “Esta capacidade do Estado, em França, para homogeneizar e ampliar o seu território (…) está parcialmente associada à sacralização do poder, herdada do Antigo Regime, e ao casamento da monarquia com a Igreja”, aliança esta que é posta em causa com a revolução de 1789. “Pagar o imposto, assegurar a defesa – do soberano, do reino, da pátria -, estes são os dois sacrifícios que o soberano espera dos seus vassalos e, depois, dos seus súbditos: da Idade Média ao século XX, criaram a pouco e pouco as bases do absolutismo, monárquico e, depois, republicano”. “Em França, «a nação acabou por calçar as botas do Príncipe, mas não antes de o próprio Príncipe ter calçado as chinelas pontifícias e do bispo». Isto porque, desde a sagração dos reis, o governo não é apenas uma eleição, é também um mysterium exercido pelo rei sumo-sacerdote e pelos seus funcionários incontestáveis.” (vd. História de França, de Marc Ferro, edições 70, março de 2013, págs 574 e segs.)

[2] “… pelos polacos no início do século XVII; pelos suecos, no século XVIII; pelos franceses, no século XIX; pelos ingleses, franceses e norte-americanos, logo depois do fim da Primeira Guerra Mundial, entre 1919 e 1921; e, finalmente, pelos alemães, durante a Segunda Guerra Mundial, entre 1941 e 1944 (vd. “A guerra, a energia e o poder mundial”, entrevista a José Luís Fiori).

 

 

 

 

 

 

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